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Uma educação para o sensível

Publicado em 28 de fevereiro de 2014.

 

Não tive uma autonomia racional para avaliar "A Caverna dos Sonhos Esquecidos" de Werner Herzog. Fui tomado por uma passividade tamanha que o documentário em 3D tomou proporções ainda maiores e realistas em minha cabeça.

 

Como aprender a lidar com o sensível quando nossa sociedade tenta racionalizar tudo? A subjetividade presente no filme contribui para elaborar e reforçar identidades. De onde nós viemos? Quem somos nós?

 

O filme mostra a descoberta de uma caverna, no interior da França, que contém pinturas rupestres nas paredes que datam ser de um período anterior a 30 mil anos. Cientistas e pesquisadores tentam desvendar os segredos escondidos na caverna e o diretor conduz uma narrativa que surpreende.

 

O filósofo alemão Immanuel Kant em sua "Crítica do Juízo" propõe um conceito de juízo sensível, uma unidade entre a razão e a emoção. Ótimo ponto de partida para se analisar "A Caverna dos Sonhos Esquecidos".

 

Não podemos categorizar a linguagem poética, afinal estamos diante de significados sobre aquilo que não vemos. Um filme como esse não é uma arte representacional. Ele toca as pessoas e possibilita uma logicidade significativa sobre algo. Porém ele não apresenta os caminhos. É você e sua imaginação que vão criar uma lógica para lidar com esse novo mundo fantástico.

 

Em certo momento, Herzog, que também é o narrador, diz que "nada é real, nada é certo. Somos apenas crocodilos que observam um abismo do tempo." Será que ele tem razão? Estaríamos nós nos dividindo em nossas próprias imagens antagônicas?

 

É o processo de desumanização, que tanto observamos nas notícias dos jornais, na rua de casa, na sociedade. Por motivos subjetivos, a gente é capaz de perceber a realidade à nossa volta, sem que haja uma explicação, sem que haja um entendimento racional. Mas será que estamos dispostos a isso? Afinal, a física e a ciência até agora ainda não explicaram nossa consciência.

 

Piero Sbragia 

Werner Herzog
Julie Christie
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