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Rede fragmentada

Publicado em 07 de fevereiro de 2014.

 

Quem gosta de novela vai adorar "Álbum de Família", baseado na peça de teatro de Tracy Letts vencedora do Prêmio Pullitzer. Não digo isso por se tratar de um filme menor, mas sim pelo grande número de atores e núcleos dramáticos.

 

Chega a ser difícil acompanhar tantas situações diferenciadas em torno da mesma família, que se reúne depois de uma tragédia. O eixo central da história é a personagem de Meryl Streep, uma viúva amarga com a vida e com os filhos.

 

De um simples almoço, um dia depois do enterro do patriarca da família, o sempre excelente Sam Shepard, surgem reviravoltas a cada minuto. Cada personagem trás consigo uma montanha de revelações e mistérios.

 

As críticas do New York Times dizem que a história funciona melhor no teatro, já que o filme não tem ação. Eu concordo com essa comparação, mesmo não gostando de misturar cinema com outras formas de arte. O diretor John Wells não tem experiência na telona. Ele vem da TV (da série Plantão Médico, lembra?) e tem uma longa experiência como escritor de séries televisivas.

 

Ao passo que muito diretores de Hollywood tem migrado para série milionárias na TV, outros tantos tem saído da telinha direto para a sétima arte. A falta de bagagem acaba comprometendo bons roteiros, como é o caso desse aqui. O filme é cansativo. Tem muito "blá blá blá". A gente termina de assistir com aquela impressão de que faltou algo...

 

Porém, é preciso reconhecer que "Álbum de Família" joga luz em uma questão interessante. Não estaríamos nós também vivendo um vida cuja rede está tão fragmentada quanto a dos personagens?

 

​Claro que muitas situações no filme são dramatizadas ao extremo (como dois irmãos serem namorados e não saberem da relação de sangue entre eles), mas será que nossa teia de relacionamentos em redes sociais não seria também um escape para relações cada vez mais vazias na vida real?

 

Fico pensando nas facilidades do Facebook. Apaga um comentário aqui, apaga outro ali. Coloca uma foto sempre bonita, com o melhor ângulo e os melhores efeitos. Já reparou que nas redes sociais ninguém é triste? Ninguém também tem problemas. A vida de todos é bela, bonita e maravilhosa. Críticas apenas aos governos, aos partidos, ao vizinho, às empresas de telefonia.

 

O Facebook e as redes sociais são um exercício de solidão. A gente fica cada vez mais solitário esculpindo um "avatar" da nossa vida, que não existe, e se distancia das pessoas de verdade, que estão aqui, lado a lado. Precisando de um afago e carinho.

 

Piero Sbragia

Álbum de Família
Julia Roberts
Meryl Streep e Juliette Lewis
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